Sunday, 6 May 2012

Por Maria Prata


Recebi de uma amiga querida esse texto, deixei nos rascunhos, esqueci de postar, mas agora vai...

Um Pedaço

Foi quando comecei a me apaixonar pela moda. Me encantei perdidamente por um tom de roxo vivo, o roxo cardeal; por uma regata fluo da Fit; e por uma calça estampada de xadrez vichy que eu usava quase diariamente, para desespero da minha mãe, que achava que mais parecia fantasia de palhaço. Era da Zapping. Foi quando descobri que havia uma colunista de moda e noite na Folha de S.Paulo; que a madrasta de um grande amigo trabalhava na Zoomp; que tinha um estilista brasileiro entrando na Lanvin. Quando usei o primeiro sutiã, tomei o primeiro porre, dei o primeiro beijo, fumei o primeiro cigarro. E nunca mais fumei outro. Quando entrei para uma nova escola, fiz novas amigas, descobri novos mundos, entendi novas ideias. Adorei. Briguei muito com minha mãe, tentei entender meu pai, fiquei encantada com meus irmãos. Virei eu mesma, feita de um pouco de cada um deles. Deixei os cabelos crescerem para sempre e cuidei deles diariamente. Comprei um secador de cabelos, depois um rímel, então um delineador, alguns batons, vários perfumes. Montei uma necessaire, enchi algumas gavetas, depois um banheiro inteiro. Quando pintei os móveis do quarto com o tal roxo cardeal, desenhei uma moldura no espelho da luz e pendurei um mural na parede. Alfinetei muitas, muitas fotos nele. Comprei uma bota de salto igual à da minha irmã, ouvi discos do meu irmão, fiquei com alguns amigos dos dois – me apaixonei e namorei com um deles. Primeiro amor. Dancei forró em Itaúnas, Caraíva, Itacaré, e em um galpão no largo da batata. Tomei muita cerveja quente em copo de plástico na Vila Madalena. Sujinho, Tombaqui, Tihuana. Peguei o Lapa C, o Vila Mariana, o Pinheiros. E uns táxis, quando a preguiça era grande. Fiz uma tatuagem, depois outra. Mais uma. Pintei os cabelos de roxo, coloquei um piercing na boca, ouvi uma música chamada trance e fui morar em Londres, estudar a moda, aquela grande paixão. Quando voltei, era uma mulher feita. Feita pela vida inteira e por uma adolescência muito bem vivida.

Via PrataPorter, por Maria Prata





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